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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

GERAÇÃO DA VIRAGEM

GERAÇÃO DA VIRAGEM: ENTENDIMENTOS E DESENTENDIMENTOS

Com a explosão da chamada “teoria das três gerações” (a do 25 de Setembro, a do 8 de Março e, agora, a da Viragem – ênfase de Machado da Graça), muitos são os que não “entendem” ou “desentendem” o alcance da terceira e última geração, a da viragem,  para além de “muitos que estão assustados e questionam viragem para quê?”, o mais surpreendente foi o digníssimo e incomparável reitor da UEM, Padre Couto, que publicamente convidou o presidente da república a clarificar, uma vez mais, o significado, a direcção, os objectivos e as motivações desta geração.
Já bastante discutido e re-discutido, parece que é impossível ouvir, assimilar e acomodar o conceito de geração da viragem. Tentemos analisar a “teoria das três gerações”, com incidência na da viragem, com base no que já foi dito e escrito pelos medias sobre o assunto.

Primeiro entendimento: por  geração (do latim generatióne) percebe-se um grupo de contemporâneos – todas as pessoas que nasceram em aproximadamente o mesmo tempo, considerados como um colectivo, especialmente quando considerados como tendo interesses e atitudes comuns. Por sua vez, o estabelecimento de uma nova geração – o período de tempo nos seres humanos – varia entre 30 e 35 anos. Ora, o espaço de tempo entre as 3 gerações da História do Moçambique livre, a do 25 de Setembro, a do 8 de Março e a da Viragem, é irregular e descontínua, quer dizer, desde a proclamação da independência até hoje, temos simplesmente duas gerações (35 anos) e não três.

Segundo entendimento: a expressão “viragem” designa uma transformação, revira-volta, evolução ou desenvolvimento. Como cada geração representa uma única etapa na descendência, uma fase específica numerada, isto significa que, a cada nova geração, um conjunto de acontecimentos acontecerão e que com certeza, marcarão a  geração, quer dizer, a viragem ou desenvolvimento (intelectual, social, económico, cultural, etc) está implicitamente tatuado no conceito de  geração. Nova geração traduz uma viragem. Sinopse: o  termo “geração da viragem” é redundante. Toda geração é de viragem.
Geração de viragem?

Terceiro entendimento: como “nova expressão da linguagem governamental foi usada pela primeira vez por PR, no seu primeiro discurso após a investidura para o seu segundo mandato como Presidente da República, em 14 de Janeiro de 2010”. De acordo com as palavras do PR, “a geração da viragem é aquela que vai acabar com a pobreza em Moçambique”. “Vamos à viragem para vencermos a luta contra a pobreza”. Quem é? “Somos todos nós, mas, sobretudo, os jovens que tem a exaltante missão de vencer a pobreza”.

Quarto entendimento: “porquê  acreditamos, como (que é com) a Geração da Viragem, que a pobreza vai ser vencida em Moçambique”? – “Vamo-nos referir à formação, à cultura de trabalho do moçambicano e à expansão de infra-estruturas como indicadores não só do sucesso que estamos a registar nesta luta contra a pobreza como também da certeza de que vamos vencer este flagelo (...) a experiência mostra que quando a vontade de uns se torna a vontade de todos, então esse colectivo torna-se imparável. Em Moçambique o discurso de luta contra a pobreza foi apropriado e é articulado por todas as gerações de moçambicanos. Por isso, é um discurso institucionalizado e com este enfoque, estamos em condições de ir celebrando as pequenas vitórias como parte dessa marcha imparável”.

Primeiro desentendimento: “ao demarcar para a primeira geração o 25 de Setembro, início da luta armada, não se está a negar também os que, a 25 de Junho de dois anos antes, criaram a FRELIMO? Onde para esta geração? E a geração dos nacionalistas – Craveirinhas, Noémias de Sousa e tantos outros que formaram, ideologicamente, muitos dos que viriam a pegar em armas em 75? E a geração dos Albasinis e Noronhas, os Maguiguanas e outros Gungunhanas, com os seus Gwaza Mutinis? A indicação das gerações abrange apenas os vivos”?

Segundo desentendimento:  “viragem para onde”? “Viragem a partir de onde”? “Viragem porquê”? “Virar carros”? É possível virar qualquer coisa que se possa virar sem poder para tal?

Terceiro desentendimento: como vamos acabar com a pobreza se ela está nas nossas cabeças? A pobreza é mental, não? Então é só imaginar que a pobreza acabou, que ela desaparece? Não acredito muito na mentalidade da pobreza. Acredito na realidade da pobreza. A pobreza é material, os conceitos variam em função do bem-estar e oportunidade. A geração da viragem devia era criar riqueza, não simplesmente vencer a pobreza.
Quarto desentendimento: a geração da viragem “somos todos nós”. Todos nós somos a geração da viragem? Tem lógica! Se vamos lutar para vencer a pobreza absoluta, todos devemos participar, não só os jovens, mas todas as gerações,  a do 25 de Setembro e a do 8 de Março, incluso. Voltamos à estaca zero! Não temos nada de gerações.

Quinto desentendimento: “é verdade que a grande responsabilidade da criação da geração da viragem, reside nos jovens, mas estamos conscientes do sucesso dos jovens para esse objectivo? A geração da viragem não se limita apenas nos discursos do PR, apesar de ser deveras estratégico e motivador o papel desempenhado pelo PR, mas os políticos, enfim a sociedade em geral deverá contribuir para que esse desiderato da construção duma geração que tem por missão combater a pobreza, seja materializado, sem no entanto abdicarem desse objectivo que sem dúvida só poderá ser alcançado se todos fizerem parte desse projecto”.

Sexto desentendimento:HIV/SIDA, alcoolismo (...); “(...) enquanto o CNJ não consegue afirmar-se como a alavanca promocional do debate dos assuntos da juventude, pelo facto de estar de forma sequenciada a não criar mecanismos para fazer chegar junto do público alvo a sua agenda central, correndo o risco de ser mais uma direcção votada ao fracasso (...)?

Sétimo desentendimento:  as duas primeiras duas gerações lutaram por algo concreto e soberano. O interesse era nacional e maior que qualquer interesse individual. A luta pela independência e pela reorganização do país unia a todos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico. Será que a luta contra a pobreza é tão sublime assim? É capaz da pobreza unir a todos (...)?

Último desentendimento: como expressão da linguagem governamental, a designação “geração da viragem” pode até ter sido usada pela primeira vez pelo PR, no seu primeiro discurso após a investidura para o seu segundo mandato como Presidente da República, em 14 de Janeiro de 2010, mas ela foi usada publicamente pela primeira vez na festa de comemoração dos 32 anos da OJM, na escola do Partido Frelimo, em finais de 2009.

Em suma, acredito que os jovens são capazes de tudo, senão não seriam a força transformadora de todos os tempos. Seja qual for a designação da geração a que pertencemos, a viragem é (ou será) inevitável. Geração da viragem é o que todos somos, sempre fomos e sempre seremos, desde que lutemos pela melhoria de coisa qualquer em nome das nossas próprias vidas (miseráveis) ou em prol do desenvolvimento (não apenas crescimento económico) deste belo Moçambique (à saque).

“Vencemos, caros compatriotas, a luta pela independência. Vencemos a luta pela paz. Venceremos a luta contra a pobreza. Venceremos a luta pelo desenvolvimento. Ontem triunfámos graças à determinação, coragem e firmeza deste maravilhoso Povo Moçambicano. Hoje, como ontem, o segredo da nossa vitória contra a pobreza está na Unidade Nacional, no espírito patriótico, no sacrifício, na nossa perseverança e determinação”.
Armando Guebuza, 06. 10. 2005.

Texto por: O Galo Com Crista

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