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Resumo
Por
seu turno, Robbin (2000) considera que o termo tecnologia diz respeito ao modo
como uma organização transforma seus insumos em produtos (inputs em outputs), daí
que, toda organização tem no mínimo uma tecnologia para transformar recursos
financeiros, humanos e físicos em produtos ou serviços.
Resumo
Este
artigo apresenta, a partir da definição de Higgott e Reich (1998), o conceito
de globalização como revolução
tecnológica e social e as suas implicações na transferência de tecnologias.
Não constitui objecto de discussão o papel da globalização nas sociedades, mas
sim até que ponto a transferência de tecnologias, como característica da
globalização, dos países desenvolvidos (pd) para os países em via de
desenvolvimento (pvd) podem afectar a sociedade? Seria viável pensar numa
transferência imediata de toda tecnologia dos pd’s para os pvd’s? E a
sociedade, como encara esse fenómeno? Estas são algumas das questões que este
artigo pretende responder.
Palavras-chave: globalização,
tecnologia, transferência de tecnologia
Introdução
Vivemos
numa era em que o acesso à informação é sensivelmente momentânea e a sua
quantia em trânsito nunca foi tão imensa como presentemente. O que acontece do
outro lado do mundo entra logo nas nossas casas e influi as nossas vidas. Vivemos
num universo instável, de enorme metamorfose política, económica, cultural,
cientifica, desportiva e social, com distintos factos até aqui ignorados. Em
suma, moramos num mundo em que o espaço e o tempo são cada vez insignificantes.
Ora,
Higgott e Reich (1998) definem globalização segundo (4) quatro perspectivas
(aliás, assim o faz igualmente Scholte): (a) globalização como uma
época histórica; (b) globalização como uma confluência de fenómenos económicos;
(c) globalização como a hegemonia de valores americanos; e (d) globalização
como revolução tecnológica e social.
Sabe-se
que a globalização como fenómeno à escala mundial teve, na sua origem, dois
eventos essenciais: o advento e a rápida propagação das novas tecnologias de
informação e, no mundo político, a queda do Muro de Berlim, que acabando com a
Guerra Fria e o mundo bipolar (dominado pelos EUA e URSS), remodelou o mundo
num espaço único, sem fronteiras físicas, em que o capitalismo se espalhou
comandado pelas empresas multinacionais.
O
objectivo deste trabalho passa por fazer uma breve análise deste fenómeno a que
se chama globalização e seus efeitos com relação
à transferência de tecnologias e como a sociedade as interpreta. Numa primeira
etapa, apresentam-se as diversas vertentes do fenómeno globalização, num
segundo estágio discute-se o conceito de tecnologia e transferência de
tecnologias, para depois perceber-se a questão principal do artigo.
Problematização
É
quase impossível falar de globalização sem falar de tecnologias ou transferência
de tecnologias. Quando Higgott e Reich definem a globalização como sendo “uma
revolução tecnológica e social”, eles assumem que não seria possível existir
globalização sem tecnologias, o que é evidente. Seria mesmo impossível navegar
na internet, aceder à televisão digital ou ainda exportar energia moçambicana
para a África do Sul. Ora, o que se impõe, entretanto, é observar para além dos
benefícios que a globalização e as tecnologias proporcionam – observar a
sociedade, daí perceber como ela vê a absorção de tecnologia além das
fronteiras nacionais convencionais, observando as suas implicações.
Globalização – definição
Higgott
e Reich (1998) identificaram em comum quatro definições de globalização de uso
dentro da comunidade escolar assim como dentro da comunidade política, vejamos:
(A) Globalização como uma época histórica. Neste
contexto, a globalização é um período
específico de história – em lugar de um fenómeno sociológico ou teórico. É
amplamente datado desde o princípio e o fim da Guerra Fria, e é imortalizado na
destruição do Muro de Berlim.
(B) Globalização como uma confluência de
fenómenos económicos. Alternativamente,
globalização, em lugar de ser visto historicamente, poderia ser caracterizada
funcionalmente como um produto intrínseco relacionada com uma série de
fenómenos económicos. Estes fenómenos incluem a liberalização e o desregramento
de mercados, privatização de activos, redução de funções estatais, difusão da
tecnologia, distribuição de produtos além-fronteiras, produção (Investimento
Directo Estrangeiro), e a integração de mercados importantes. Em uma formulação
restrita, o termo recorre à expansão mundial de vendas, produção e processos
industriais de tudo que constituem a divisão internacional de trabalho.
(C) Globalização como a hegemonia de valores
americanos. Este
conceito deriva do livro de Fukuyama, “The
End of History and the Last Man”; a abordagem acentua a difusão e
assimilação da cultura ocidental, evidenciando a capacidade tecnológica,
financeira e institucional (político e económico, sector público e sector
privado) norte-americano.
(D) Globalização como revolução tecnológica e social. Esta visão contradiz directamente a segunda
definição de globalização como sendo mas um agrupamento de novas actividades
económicas. Esta visão discute a globalização como uma forma nova de actividade
na qual há uma troca decisiva do capitalismo industrial para uma concepção
pós-industrial de relações económicas. Esta troca é conduzida por uma revolução
entre elites técnicos-industriais que vão eventualmente consolidar um único
mercado global. É globalmente um processo inclusivo de produção integrada; de
mercados especializados mas interdependentes; da privatização de activos do
Estado; e do acoplamento de tecnologia por fronteiras nacionais convencionais.
Resumindo,
podemos dizer que a definição ‘A’ identifica uma troca nas relações políticas e
económicas entre superpotências, por um lado, de capital, e trabalho no outro.
Traduz, em essência, um argumento histórico na tradição realista das relações
internacionais. A definição ‘B’ representa uma agregação e aceleração de
mudanças num conjunto de áreas da vida económica moderna. É uma aproximação da Teoria de Interdependência Liberal
moderna, dentro da política económica internacional. A definição ‘C’ reflecte
uma convicção no triunfo de uma única ideologia na batalha de ideias dominantes
do século XX. Dependendo de uma preferência normativa, pode ser vista em
perspectivas Liberais e Marxistas. Por último, a definição ‘D’ sugere que a revolução não só está a acontecer nas
relações entre o Estado e a economia, mas também com a sociedade civil.
Por
sua vez, Scholte (2002) refere que globalização se refere a um conjunto de
factores, que no seu conjunto a definem:
(i)
Internacionalização – traduz um
crescimento de trocas e interdependência entre os países, isto é, um mundo mais
global é um onde mais mensagens, ideias, mercadorias, dinheiro, investimentos e
pessoas atravessam as fronteiras nacionais e internacionais.
(ii)
Liberalização – traduz um processo de
remoção oficial de restrições impostas aos movimentos de recursos entre países
para formar uma economia mundial (aberta e transfronteiriça). Nesta
compreensão, globalização acontece quando as autoridades administrativas
reduzem as medidas reguladoras como entraves ao comércio, limitações de trocas,
fiscalização de capital e exigências de visto.
(iii)
Universalização – traduz o processo
de dispersão de vários objectos e experiências às pessoas de todos os pontos da
terra. Neste sentido, entende-se a globalização como “ferramentas globais” e
“em todos os lugares”.
(iv)
Ocidentalização – a globalização
representa um tipo particular de universalização; uma universalização cujos
sistemas sociais do modernismo (capitalismo, industrialismo, racionalismo,
urbanização) se disseminam em ‘cima de mundo’, arruinando culturas
pré-existentes e a autodeterminação local. A globalização entendida deste modo
dentro é interpretada frequentemente como colonização e americanização.
Tecnologias
A
expressão tecnologia (do grego tekhnología, «tratado sobre uma arte») significa
o estudo sistemático dos procedimentos e equipamentos técnicos necessários para
a transformação das matérias-primas em produto industrial, ou seja, conjunto
dos instrumentos, métodos e processos específicos de qualquer arte, ofício ou
técnica (Costa & Melo, 2001).
Segundo
Simões (sd, p. 1134), “tecnologia é
um conjunto organizado de conhecimentos de natureza científica, técnica ou
empírica, necessários à produção, distribuição e utilização de bens e
serviços”.
Para
Berniker (1987) citado por Rascão
(2001), a tecnologia, no sentido geral, representa todo o conhecimento que pode
ser estudado, codificado e ensinado aos outros. Deste modo, a tecnologia serve
de suporte ao desenvolvimento e funcionamento dos sistemas técnicos
constituídos por máquinas, equipamentos e métodos.
Segundo
esse autor, na linguagem corrente, a noção de tecnologia está normalmente
associada a um equipamento que, por via da acção mecânica ou electrónica,
permite transformar algo ou executar determinada tarefa. Vemos deste modo, que
mais do que nunca, a tecnologia está ligada à informática, à linguagem digital,
aos computadores, aos robots e aos
sistemas de comunicação.
Goodman
et al., (1990) citado por Rascão (ibid.)
considera que o sistema tecnológico é composto por quatro componentes: (i) o
equipamento, (ii) o objecto de transformação, (iii) o ambiente onde está
instalado, e (vi) as normas e procedimentos utilizados no processo (sic). O conceito apresentado resume a
visão integradora da tecnologia, onde os equipamentos são simples instrumentos
de um processo mais global que, por um lado condiciona, e por outro depende do
ambiente envolvente e das normas por ele geradas. Portanto, em sentido
restrito, a tecnologia concentra-se nos mecanismos de transformação usados em
processos produtivos, enquanto elementos facilitadores da acção humana.
Transferência
de tecnologias
Entende-se
por transferência de tecnologias ao processo através do qual conhecimentos e
informações de natureza tecnológica gerados e/ou utilizados num determinado
tipo de actividade ou local são aplicados num contexto diferente.
A
transferência de tecnologias, quanto ao âmbito geográfico, pode ser de nível intranacional
(também designada por difusão interna de tecnologia), quando tem
lugar no interior de um país, ou internacional, se o movimento se
efectuar transfronteiras. Esta é, obviamente, a acepção mais frequentemente
usada em Moçambique, onde a introdução e utilização de novas tecnologias está
largamente dependente da sua importação.
Classificação
das tecnologias
Existe
uma multiplicidade de tentativas de classificação das tecnologias, todas elas
insuficientes para uma caracterização efectiva e completa, e consequentemente
sujeitas à crítica.
Simões
(sd, p. 1134) apresenta uma nomenclatura
mais comum. Assim, as tecnologias podem ser divididas em três grandes grupos:
- Quanto ao suporte material: (i) tecnologia livre – designando os conhecimentos intangíveis, formalizados ou não, mas não substanciados em produtos; (ii) tecnologia incorporada – vertida nos equipamentos, maquinaria e instrumentos utilizados em determinados processos de produção ou distribuição;
- Quanto aos efeitos organizacionais: (i) tecnologias conservadoras – quando não entram em ruptura com as organizações que as geraram e/ou desenvolveram; (ii) tecnologias radicais – no caso de darem origem a transformações profundas nas organizações onde se desenvolveram ou exigirem mesmo novas organizações;
- Quanto ao impacto sobre o ambiente: (i) tecnologias limpas – sem efeitos poluentes e; (ii) tecnologias sujas – as que conduzem a uma degradação ambiental de efeitos mais ou menos graves.
Globalização,
transferência de tecnologias e a sociedade
Assim
como a globalização, o progresso tecnológico não se processa no vazio, mas no
seio de uma sociedade concreta com determinados padrões culturais e de valores.
A tecnologia é influenciada pelas condições culturais e educacionais e por
pressões de natureza social e económica. Nestas condições se afirma
frequentemente que “a promoção de uma cultura técnica constitui um factor
fundamental para o desenvolvimento tecnológico nos países menos industrializados”
(Simões, sd, p. 1134). Mas por outro
lado, as tecnologias, e as técnicas utilizadas, têm repercussões sociais
evidentes:
- Uma reacção contra as
máquinas (automatização e robótica) com o pretexto de diminuição de
possibilidades de emprego;
- As populações estão cada
vez mais cientes dos riscos que certas tecnologias, particularmente a
nuclear, acarretam para o harmonia ambiental e para a própria vida humana
– daí que requerem uma participação mais activa na tomada de certas
decisões no campo de acção da política industrial e tecnológica;
- Insurgentes protestos de
natureza ética – receios de um controle informático sobre as vidas dos
cidadãos ou possíveis sequelas da manipulação genética (veja-se por
exemplo, o recente caso da iminente explosão nuclear das centrais térmicas
do Japão [Yikoshima]).
Por
outro lado, a transferência de tecnologias, grandemente influenciada pelos
avanços nos sistemas de comunicação, expansão das empresas transnacionais e
mundialização das relações económicas, gera algumas correntes de opiniões e
críticas, tanto nos países desenvolvidos (pd’s) como nos países em via de
desenvolvimento (pvd’s).
Nos
primeiros, considera-se que a exportação de tecnologia conduz a uma erosão do
avanço tecnológico detido, cria novos concorrentes, reduz as exportações de
bens e emprego e pode mesmo ter efeitos negativos nos planos militar e
estratégico.
Nos
pvd’s, as críticas fazem menção aos alegados efeitos sociais e económicos. No
panorama social, apontam-se as distorções que origina nos comportamentos
sociais, a introdução de hábitos de consumo não adequados e a diminuição das
oportunidades de emprego. No panorama económico, os discursos mais populares defendem
que as tecnologias importadas são mais intensivas em capital e consequentemente
inapropriadas para países onde há escassez de capital e abundância de trabalho;
que raramente há efectiva transferência de tecnologia, na medida em que ela não
é assimilada pelos técnicos locais; que o custo é demasiado elevado, devido à
situação de monopólio ou oligopólio de que gozam os vendedores; que as empresas
multinacionais introduzem, por vezes, novas tecnologias para eliminarem os seus
concorrentes nacionais e obterem altas margens de lucro (Simões, ibid.).
Como
se pode ver, a solução dos problemas originados pela transferência de
tecnologias passa pela promoção dos fluxos tecnológicos em concomitância com o
desenvolvimento da infra-estrutura científica e tecnológica nacional. É importante
que se criem condições para aproveitar e adaptar a tecnologia importada,
usando-a como forma de suprir as carências e de se estimular o desenvolvimento
da capacidade tecnológica local.
Notas
finais
A
globalização não poderia existir sem a disseminação das tecnologias. Mais do
que um item na agenda da globalização, a difusão de tecnologias é a própria
globalização económica. Entretanto, são diversas as críticas que se podem
apontar quando se fala da transferência de tecnologias pelo mundo, críticas
essas que diferem tanto nos pd’s como nos pvd’s. Essas críticas, sobre questões
da sociedade (afinal, a globalização e o desenvolvimento são fenómenos
primeiramente sociais) podem ser negativas ou positivas. Talvez por serem
países capitalistas, as elites dos países desenvolvidos defendam a concentração
das tecnologias, contudo, as populações estão cada vez mais contra as
tecnologias que poluem ou destroem o ambiente, assim como contra aquelas que
ferem a dignidade humana. Nos pvd’s, as críticas conduzem-se pelo lado mais
ingénuo, acusando as tecnologias pelo escasso emprego e desvirtualização da
sociedade. A transferência de tecnologias para os pvd’s acarreta elevados
custos, dinheiro que muitas vezes esses países não possuem que, aliás, pedem
emprestado aos países capitalistas para comprarem as suas próprias tecnologias que,
consequentemente, pouco ou algumas vezes, de nada os servirá, principalmente
devido a inexistência de executantes especializados ou ignorância propositada
contra tais tecnologias.
Lista
de referências
Scholte, Jan Aart (2002). What Is Globalization? The Definitional Issue – Again.
Centre for the Study of Globalization and
Regionalization (CSGR), Working Paper Nº. 109/02. University of Warwick, United
Kingdom.
Higgott, Richard & Reich, Simon (1998). Globalization and Sites of Conflict: Towards Definition and Taxonomy.
Centre for the Study of Globalization and
Regionalization (CSGR), Working Paper Nº. 01/98. University of Warwick, United
Kingdom.
Simões,
Vítor Corado. (sd) Tecnologias,
In: Polis – Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, Vol. III. Editorial
Verbo: Lisboa/SP.
Costa,
J. Almeida & Melo, A. (2001). Dicionário Electrónico de Língua
Portuguesa. Porto: Porto Editora, Priberam Informática, Lda.
Rascão,
J. (2001). Sistemas para as Organizações – A Informação Chave para a
Tomada de Decisão. Editora Silabo: Lisboa.
Robbin,
Stephen P. (2000). Administração, mudanças e perspectivas. Ed.
Saraiva: SP.
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